domingo, 3 de abril de 2011

Cartas para um desconhecido

writing1

Minha irmã chegou de viagem e me trouxe a salvação da minha vida acadêmica: uma calculadora HP-50g ( o paraíso dos nerds, matemáticos, engenheiros, e astrônomos). E futucando as coisas, resolvi testar a leitura de arquivos .txt com um cartão de memória SD. Encontrei uma carta pra mim lá de uma amiga a quem eu tinha emprestado o cartão dias antes ( e nem me dei por conta que ela tinha me deixado qualquer coisa pra ler) hiper mega bonitinha dizendo entre outras coisas que não tinha a minha habilidade de escrever coisas bonitas em cartas, etc, etc.

Eu nunca me considerei qualquer tipo de escritor, muito menos um dos bons. Mas pessoas costumam gostar das cartas que eu escrevo. Resolvi então falar aqui o que eu realmente faço quando quero escrever uma carta.

Antes de tudo, tenho que dizer que cartas levam a vantagem (ou covardia) de expor um argumento sem a presença física de uma possível resposta indesejada da outra parte, então, a regra básica de se escrever qualquer coisa é: não poupe palavras para exprimir o que sente. É pra falar mesmo! E nem pense em pensar duas vezes no que vai dizer. Quando é para alguém que já se conhece, ainda mais fácil. Imagine a pessoa, os sentimentos que ela desperta em você e deixe o lápis fazer o trabalho dele. Mesmo que saiam umas poucas palavras, elas são os seus sentimentos, valem mais que um livro inteiro de abobrinhas pra encher páginas sem sentido. Pra se ter uma idéia, eu não curto nem fazer rascunho do que escrevo. A letra feia faz parte de quem você é, o que foi escrito é o que se sentia naquele momento. Reler pra que então?! Claro que não se deve assassinar o português, mas daí a mudar o sentido de uma frase ( e as vezes até apagá-la por completo do texto)? Demais pra minha cabeça.

A segunda regra que sempre uso é: não pare pra pensar sobre o que está escrevendo. Tenho cá comigo na minha cabeça problemática que raciocínio interfere em instinto. E instinto é sentimento. Vai contra todo e qualquer princípio de expressão contido na carta. Cartas foram feitas pra se expressar sentimentos, bons ou ruins. E por cartas leia e-mails, cartas de papel com selinhos bonitos mandadas pelo correio, mensagens de texto por celular, escritos com graveto na areia da praia, inscrições em élfico na contracapa do caderno… Deixe a coisa fluir. Seja ela sutil como um hipopótamo rolando morro abaixo ou grudenta como um pote de mel cheio de abelhas em volta.

E a última regra: jamais releia o que escreveu num período de pelo menos 1 mês. Vai que bate aquele arrependimento?! Certas coisas simplesmente devem ser feitas. Não importam as consequencias!

Se a carta ficar boa ou ruim, quem julga é quem a recebe. Se você fez o que sentia, melhor impossível.

************************************

My sister arrived from USA and brought me the salvation of my academic life: a HP-50g calculator (a heaven for nerds, mathematicians, engineers, and astronomers). And fool with things as I am, I decided to test it’s features reading .Txt files with an SD memory card. I found a letter on it addressed to me from a friend whom I had lent the card days before (and had no idea she had left me anything to read) wich was hyper-mega cute saying among other things that she didn’t have my skills to write beautiful things in letters, etc., etc.

I never considered myself any kind of writer, much less a good one. But people tend to like the letters I write. I then decided to tell here what I do when I really want to write a letter.

First of all, I have to say that letters have the advantage (or cowardice) to expose an argument without the physical presence of a possible undesired response from the other party, then the basic rule of writing anything is: spare no words to express what you feel. It is to say it! Do not even think to think twice about what to say. When is someone you already know, even easier. Imagine the person, the feelings she/he arouses in you and let the pencil do it’s job. Even leaving a few words, they are your feelings are worth more than a whole book full of nonsense to fill pages without meaning. To give you an idea, I don’t even make any drafts of what I’m writing. That ugly calligraphy is part of who you are, what was written is what is felt. Reread for that, then?! Of course you should not kill the grammar, but from changing the meaning of a sentence (and sometimes even erase it completely from the text)? Blows my mind.

The second rule that I always use is: do not stop to think about what they are writing. I assume in my troubled head that thinking interferes with instinct. And instinct is feeling. Goes against every principle of expression contained in the letter. Letters were meant to express feelings, good or bad. And by letters I mean e-mails, paper letters with that fancy stamps sent by mail, text messaging via cell phone, stickwritting in the sand, in Elvish inscriptions on the back of the book ... let the thing flow. Be it subtle as a hippopotamus rolling downhill or sticky like a honey pot full of bees around.

And the last rule: never reread what you wrote over a period of at least 1 month. And if you feel regret?! Some things just should be done. No matter the consequences!

If the letter looks good or bad, only the recipient can tell. If you did what you felt, better is impossible.”

3 comentários:

Ana Carolina disse...

Concordo completamente com tudo o que vc disse primo... eu acho que é um mal de familia essa mania de escrever cartas, sabia? E as vezes, a gente se arrepende, mas que saber, melhor se arrepender de ter feito do que de nao ter, ne??

Luciano PR disse...

muito bom o post!! É assim mesmo que deve ser feito!!!

Lucy disse...

Cara, obrigada, suas dicas vão fazer eu repensar o modo como escrevia minhas cartas.
Realmente são poucos os corajosos que escrevem ser reler, ou sem pensar o que estão colocando no papel.

ps.: que chique sua tradução para inglês u_u
Beijoo